sábado, 18 de abril de 2009

A Mensagem do Sermão do Monte

Contracultura Cristã
Introdução

O Sermão do Monte exerce um fascínio sem par. Ele parece encerrar a essência do ensino de Jesus. Ele torna a justiça atrativa; envergonha o nosso fraco desempenho; gera sonhos de um mundo melhor. Ele é provavelmente a parte mais conhecida dos ensinamentos de Jesus, certamente, a menos obedecida.
Se a Igreja tivesse aceitado realisticamente os seus padrões e valores, como demonstrados no Sermão do Monte; e tivesse vivido segundo eles, ela teria sido a sociedade alternativa que sempre tencionou ser, e poderia oferecer ao mundo uma autêntica contracultura cristã.
As pessoas procuram uma contracultura. O primeiro lugar onde deveriam procurar é um lugar onde normalmente ignoram, isto é, a Igreja. Pois, com demasiada freqüência, o que vêem nas igrejas não é a contracultura, mas o conformismo; não uma nova sociedade que concretiza seus ideais, mais uma versão da velha sociedade a que renunciaram.
O Sermão do Monte descreve o arrependimento e a retidão que fazem parte do Reino; isto é, descreve como ficam a vida e a comunidade humana quando se colocam sob o governo da graça de Deus.
O texto-chave do Sermão do Monte é 6:8: “Não vos assemelheis, pois, a eles.”. Jesus enfatizou que seus verdadeiros discípulos, os cidadãos do Reino de Deus, tinham de ser inteiramente diferentes. Não há um parágrafo em que não se trace um contraste entre o padrão cristão e o não-cristão.

O Sermão é relevante?
Ele descreve o comportamento que Jesus esperava dos cidadãos do Reino. Nele vemos como Jesus é em si mesmo, em seu coração, em suas motivações, em seus pensamentos.
Ele é relevante porque ele trata sobre:
a. O caráter do cristão (5.3-12)
b. A influência do cristão (5.13-16)
c. A justiça do cristão (5.17-48)
d. A piedade do cristão (6.1-18)
e. A ambição do cristão (6.19-34)
f. Os relacionamentos do cristão (7.1-20)
g. Uma dedicação cristã (7.21-27)

O Sermão é prático?
Os padrões do Sermão não podem ser imediatamente atingidos por todo mundo, nem totalmente alcançados por qualquer um. Colocá-los como sendo atingíveis por qualquer pessoa é ignorar a realidade do pecado. Esses padrões são atingíveis, mas só por aqueles que experimentaram o novo nascimento; pois justiça que Jesus descreveu no Sermão é uma justiça interior. O que se pensa no coração, e o onde o coração é colocado, isso é o que realmente importa (Mt 5.28; 6.21).

O Caráter do Cristão: as bem-aventuranças
Mt 5.3-12

a) As pessoas descritas
As bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado e diversificado do povo cristão. São qualidades do mesmo grupo de pessoas que, ao mesmo tempo, são: mansas, misericordiosas, humildes de espírito e limpas de coração, choram e têm fome de justiça, são pacificadoras e perseguidas.

b) As qualidades recomendadas
As bem-aventuranças são condições espirituais: “o meu Reino não é deste mundo” (Jo 18.36); logo, as bênçãos do seu Reino não eram em primeiro lugar uma vantagem econômica.

c) As bênçãos prometidas
Traduzir “makarios” por “feliz” pode induzir a um erro sério, pois felicidade é um estado subjetivo, enquanto Jesus está julgando objetivamente essas pessoas. Ele não está declarando como se sentirão, mas sim o que Deus pensa delas e o que são por causa disso: são bem-aventuradas.
As oito qualidades constituem as responsabilidades; e as oito bênçãos, os privilégios, a condição de cidadão do reino de Deus.

Será que as bem-aventuranças não ensinam uma doutrina de salvação pelos méritos humanos e pelas boas obras, o que é incompatível como o evangelho?
A primeira das bem-aventuranças proclama a salvação peça graça e não pelas obras, pois trata das pessoas que são tão pobres espiritualmente que nada têm a oferecer para oferecer para mérito seu.

1. Os humildes de espírito (v.3)
No A.T. o humilde/pobre de espírito, o aflito, é aquele que está sofrendo e não tem capacidade de salvar-se por si mesmo e que, por isso, busca a salvação de Deus. (Sf 3.12; Sl 34.6; Is 41.17,17; Is 57.15; Is 66.1,2)
O humilde/pobre de espírito é o que reconhece sua pobreza espiritual , reconhece que é pecador e nada merece além do juízo de Deus. Reconhece que nada tem a oferecer, nada a reivindicar, nada com que comprar o favor dos céus. 

Calvino escreveu: “ Só aquele que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre de espírito”.

Os humildes / pobres de espírito recebem o Reino de Deus, porque o Reino de Deus é recebido por graça.

Devemos ser humildes/pobres de espírito para não sermos classificados como a Igreja de Laodicéia em Ap 3.16-17: “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.”

2. Os que choram (v.4)
Neste contexto os que choram não são os que perdem um ente querido ou uma oportunidade na vida; este não é o choro da perda, do sofrimento, do luto/ este é o choro do arrependimento, choro pelo pecado.
Nós devemos chorar não apenas pelos nossos pecados, mas também pela maldade do mundo, como os homens piedosos da Bíblia, assim como Paulo em Fp 3.18 “Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo.”
As pessoas que choram, que lamentam sua própria maldade, serão consoladas pelo único consolo que pode aliviar o seu desespero, isto é, o perdão de Deus.
“O maior de todos os consolos é a absolvição enunciada sobre cada pecador contrito que chora” Lenski
 
3. Os mansos (v.5)
A palavra traduzida como manso, em grego é praüs e significa gentil, humilde, cortês, aquele que exerce autocontrole.
“Esta mansidão é, em essência, a verdadeira visão que temos de nós mesmos, e que se expressa na atitude e na conduta para com os outros...” Dr. Martin Lloyd Jones 
Talvez por causa desta definição Jesus colocou os mansos entre os que choram por causa do pecado, reconhecendo quem são, e os que tem fome e sede de justiça; ou seja a horizontalização daquilo que eles mesmos receberam: graça.

4. Os que têm fome e sede de Justiça (v.6)
A justiça na Bíblia tem três aspectos:
- Justiça legal: que é a justificação, relacionamento correto com Deus. Mas é pouco provável que Jesus esteja tratando desta justiça porque Ele falava àqueles que já O seguiam.
- Justiça moral: tem a ver com caráter e conduta que agrada à Deus, é a justiça interior, é a justiça das motivações. Precisamos ter fome desta justiça.
- Justiça social: que é a libertação das pessoas de qualquer tipo de opressão, discriminação e privação das condições básicas de sobrevivência.
 
5. Os misericordiosos (v.7)
Misericórdia é compaixão pelas pessoas que passam algum tipo de necessidade, ela trata da dor, da miséria e do desespero, que são resultados do pecado. Creio que é por isto que Jesus menciona os misericordiosos após aqueles que têm fome e sede de justiça. 
Qual a diferença entre graça e misericórdia?
A graça concede o perdão e a misericórdia concede o alívio; a graça purifica e reintegra, a misericórdia cura e ajuda.

6. Os limpos de coração (v.8)
Ser limpo coração é ter pureza interior, é ter santidade no seu íntimo e não viver uma santidade aparente, como faziam os fariseus: “O Senhor, porém, lhe disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade.” Lc 11:39
Os limpos de coração são sinceros. Toda sua vida, pública e particular, é transparente, diante de Deus e dos homens.
No contexto das bem-aventuranças “pureza de coração” parece referir-se, num certo sentido, aos nossos relacionamentos; pois a referência primária é à sinceridade

7. Os pacificadores (v.9)
Somos chamados para pacificar, devemos ativamente buscar a paz, seguir a paz com todos e, até onde depender nós, “Ter a paz com todas as pessoas”. (I Co 7.15; Pe 3.11; Hb 12.14; Rm 12.18)

8. Os perseguidos por causa da justiça (vs. 10-12)
Por mais que nos esforcemos em fazer a paz com determinadas pessoas, elas se recusam a viver em paz conosco, não por causa das nossas fraquezas, mas por causa da justiça da qual sentimos sede e fome; e porque rejeitam a Cristo que procuramos seguir. A perseguição é simplesmente o conflito entre dois sistemas de valores irreconciliáveis. 
Por que devemos nos regozijar com a perseguição?
 - Porque teremos recompensa gratuita;
 - Porque é um sinal de genuinidade, um certificado de autenticidade cristã.

A condição de ser desprezado e rejeitado, injuriado e perseguido, é um sinal do discipulado cristão, da mesma forma que um coração puro ou misericordioso. Aqueles que tem fome e sede de justiça sofrerão por causa da justiça que anseiam.

A influência do cristão: o sal e a luz
Mateus 5.13-16

Neste mundo violento e agressivo, que influência poderiam exercer as pessoas descritas nas bem-aventuranças?
O Sal e a Luz são metáforas que denotam a influência que os discípulos de Jesus exercem para o bem do mundo. O mundo, sem dúvida, perseguirá a igreja (conf. VS.10-12); apesar disso, a igreja é chamada para servir este mundo que a persegue.
O uso da luz é óbvio: iluminar. O sal tem mais variedade de uso: é condimento e preservativo.
A verdade básica que está por trás dessas metáforas, sendo comum às duas, é que a Igreja e mundo são comunidades separadas. O mundo é um lugar escuro, precisa de uma fonte de luz externa para iluminá-lo. Além disso, ele manifesta uma tendência a constante deterioração; a idéia não é que o mundo está insípido e a igreja o tempera; mas que ele está apodrecendo; e o sal precisa preservá-lo.

1. O sal da terra (v.13)  
Deus estabeleceu outras influências restringentes na comunidade: o Estado e a Família; mas Deus planejou que a influência restringente mais poderosa fosse seu povo redimido, os cristãos.
Assim como o sal precisa manter sua salinidade; o cristão precisa manter seu caráter transformado visível em atos e palavras (Lc 14.34,35; Cl 4.6). Se os cristãos forem influenciados pelo mundo, deixando-se contaminar pelas impurezas, perderão sua capacidade de influenciar.

2. A luz do mundo (vs.14-16)
Temos que permitir que Cristo brilhe dentro de nós a fim que as pessoas vejam as boas obras. Boas obras não são apenas de fé (crer, confessar, ensinar a verdade) mas também de amor ao próximo.

3. Lições a aprender
a. Há uma diferença fundamental entre os cristãos e os não-cristãos
Provavelmente a maior de todas as tragédias da Igreja ao longo de sua história, tem sido conformar-se à cultura prevalecente, em lugar de desenvolver uma contracultura cristã.

b. Tem de aceitar a responsabilidade que esta diferença coloca sobre nós
Nesses versículos, cada afirmação começa, em grego, com o enfático pronome “vocês”, que seria o mesmo que dizer “vocês e somente vocês” são o sal da terra e a luz do mundo. Vocês têm de ser o que são.

c. Temos de considerar a nossa responsabilidade cristã como sendo dupla
Evitar deterioração e iluminar as trevas.
Já vimos que Deus criou o Estado e a Família para reprimir o mal e incentivar o bem. Nós cristãos temos a responsabilidade de verificar se essas estruturas estão sendo preservadas, e também se estão operando com justiça.

A justiça do cristão: Cristo, o cristão e a lei
Mateus 5.17-20


1. Cristo e a lei (VS. 17,18)
O Velho Testamento contém:
a. O ensinamento doutrinário sobre Deus, homem, salvação, etc... que foi apenas uma revelação parcial. Jesus o cumpriu todo, no sentido de completá-lo em sua pessoa, seus ensinamentos e sua obra.
b. Profecia preditiva sobre o Messias; Jesus o cumpriu integralmente porque o predito aconteceu com Ele (Mt 1.22; 2.23; 3.3; 4.14).
c. Preceitos éticos, ou lei moral de Deus. Jesus os cumpriu obedecendo-os, porque nasceu sob a lei e estava determinado a cumprir toda justiça (Gl 4.4; Mt 3.15)

2. O cristão e lei (VS 19,20)
A obediência pessoal não basta, o cristão deve ensinar aos outros a natureza obrigatória dos mandamentos da lei.
A entrada no Reino dos Céus torna-se impossível se não houver um comportamento que exceda em muito ao dos escribas e fariseus. Como fazer isto se a lei deles continha 248 mandamentos e 365 proibições?
A justiça dos cristãos deve exceder a dos fariseus em espécie, não em grau; ela é mais profunda porque é justiça do coração. A justiça que agrada a Deus é a interior, porque o Senhor vê o coração (1 Sm 16.7; Lc 16.15).
Como isto acontece? Ler Ez 36.37

Importante: Jesus não veio abolir a lei, ele veio cumpri-la. Ele discordou da interpretação farisaica, jamais discordou de aceitarem a autoridade da lei.

A justiça do cristão: esquivando-se da cólera e da concupiscência 
Mateus 5.21-30


1. Esquivando-se da cólera (vs.21-26)
O mandamento “não matarás” seria melhor expresso assim: “não cometerás homicídio”; pois:
a. Não é uma proibição contra a supressão da vida humana em qualquer situação, mas particularmente contrato o homicídio.
b. O decálogo proibia de matar, mas a própria lei em outra lugar ordena a morte, tanto como pena capital como nas guerras (Gn 9.6).
c. Deus deu ao Estado o direito e a responsabilidade de punir malfeitores (Rm 13.1)

Ou seja, essa citação é apenas para lançar luz ao fato de que essa questão complexa não pode ser tratada de modo simplista apenas citando o “não matarás”.

Jesus ensina que a aplicação do “não matarás” era muito mais ampla: incluía pensamentos e palavras, além de atos; cólera e insultos, além do homicídio.

Seja na igreja, com um irmão (v.23); seja no tribunal, com um inimigo (v.25); o princípio é mesmo: no ato da adoração, se nos lembrarmos a ofensa, deveremos interromper a nossa adoração, sair e acertar a situação.

2. Esquivando-se da concupiscência (v.27-30)
No v.28 Jesus ensina que o verdadeiro significado da ordem divina era muito mais amplo do que a mera proibição de atos de imoralidade sexual. A alusão de Jesus é a todas as formas de imoralidade: seja no pensamento, seja nos atos. 

Nos versos 29 e 30: O que se pretende não pé uma mutilação física, mas uma abnegação moral sem concessões. É melhor aceitar alguma amputação cultural ou social neste mundo do que arriscar-se à destruição na eternidade.

A justiça do cristão: fidelidade no casamento e honestidade nas palavras
Mateus 5:31-37


1. A fidelidade no casamento (31,32)
Esses versos parecem uma abreviação de Mt 19.3-9; é importante ler este outro texto para uma melhor compreensão. 

a. Os fariseus estavam preocupados com os motivos para o divórcio; Jesus, com a instituição do casamento
Dois aspectos que Jesus selecionou: o fato de serem uma só carne e o que Deus uniu o homem não deve separar. Casamento é uma instituição divina, pela qual Deus transforma, permanentemente, duas pessoas em uma. 

b. Os fariseus diziam que a provisão de Moisés para o divórcio era um mandamento; Jesus chamou-o de concessão à dureza dos corações humanos.
O propósito de Deus não era esse.

c. Os fariseus tratavam o divórcio com leviandade; Jesus o considerou tão seriamente que, com uma única exceção, chamou todos novo casamento depois do divórcio de adultério.
Considerando que o casamento é uma instituição exclusiva e permanente; divorciar-se e casar-se com outro, ou casar-se com uma pessoa divorciada, é assumir um relacionamento proibido, adúltero, pois a pessoa conseguiu o divórcio aos olhos da lei humana, mas não aos olhos de Deus.

A única situação em que o divórcio e o novo casamento são possíveis sem transgredir o sétimo mandamento é quando o casamento já foi quebrado por algum pecado sexual.

2. Honestidade no falar (v.33)
Moisés enfatiza o perigo do juramento falso e o dever de cumprir votos feitos ao Senhor: Ex 20.7; Lv 19.12; Nm 30.2; Dt 23.21

Por que não jurar?
Porque quando somos pessoas honestas, de palavra, o juramento não necessário. Jurar pode ser uma confissão da nossa própria desonestidade.

Se juramento é proibido, por que Deus usou juramento nas escrituras? (Gn 22.16,17)
Ele jurou não para aumentar sua credibilidade, mas para despertar e confirmar nossa fé; não por causa de alguma deficiência dEle, mas da nossa incredulidade.

A proibição de juramento é absoluta? Por exemplo: jurar bandeira no exército, ou jurar perante um tribunal.
Jesus ensinou isto porque homens honestos não precisam jurar; não que eles devam recusar-se a prestar juramento se tal coisa for exigida por alguma autoridade.

A justiça do cristão: não-vingança e amor ativo
Mateus 5.38-48


1. Atitude passiva e sem vingança (v.38-42)
O que Jesus afirmou é que esse princípio, embora aplicável aos tribunais e ao juízo de Deus, não é aplicável aos nossos relacionamentos pessoais. De acordo com o verso 39, nosso dever para com os indivíduos que nos prejudicam não é vingança, mas a aceitação da injustiça.

Por que Jesus mandou não resistir ao perverso?
O propósito do seu mandamento e suas ilustrações foi proibir a vingança não incentivar a injustiça ou a desonestidade, nem deve ser usada para justificar fraqueza de caráter, transigência moral ou pacifismo total. 
 Ele não nos pede que para ignorarmos o que a pessoa fez ou é. O que ele não nos permite é a vingança. É um preceito e amor, não de insensatez.

Jesus não proibiu a administração da justiça, mas antes proibiu-nos de tomar a lei em nossas próprias mãos. Devemos entregar nossa causa à Ele como Jesus fez (I Pe 2.23), mas não devemos procurar vingança pessoal. É necessário saber que a aplicação é para o nível dos relacionamentos pessoais. Por exemplo: o Estado tem deveres diferentes do indivíduo; ele deve exercer justiça temperada com amor, e na igreja o amor deve ser temperado com disciplina. 

2. Amor ativo (v.43-48)
Paulo cita Pv 25.21 em Rm 12.20 “Se o que te aborrece tiver forma, dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe aguar para beber”.

O que dizer sobre os Salmos imprecatórios?
Neles o salmista fala não com animosidade pessoal, mas como representante do povo escolhido de Deus.

Jesus dá verdadeiro sentido sobre o “nosso próximo”:
Nosso próximo não necessariamente é um membro da nossa família, classe social ou religião; basta lembrar da parábola do Bom Samaritano (Lc 10.-29-37). Nosso próximo inclui nosso inimigo.
Devemos amar como Cristo amou; Ele morreu por nós quando ainda éramos inimigos (Rm 5.10). 

Veja o v.47: não basta aos cristãos parecer-se com os não-cristãos; nossa vocação é para ultrapassá-los em virtudes.
Não resistir ao perverso significa um chamado para não retaliação; amar os inimigos é um chamado para um amor ativo.

A religião do cristão: não hipócrita, mas real
Mateus 6.1-6; 16-18


Em 5.16 Jesus ordena que façamos, em 6.1 Ele proíbe. Como resolver essa discrepância?

5.16
Disse por causa da nossa covardia
Obras públicas para que brilhe a luz
O objetivo é a glória de Deus 

6.1
Disse por causa da nossa vaidadea
Devoção secreta para não nos vangloriarmos
O objetivo é a glória de Deus

1. A esmola cristã (v.2-4)
Em todo o Sermão o Senhor está preocupado com as motivações, com os pensamentos escondidos no coração. Aqui, a questão não é tanto sobre o que a mão está fazendo, mas o que o coração está pensando enquanto a mão age.
Jesus diz que quem busca a glória humana já recebeu.

Por que ficar em secreto? É possível transformar um ato de misericórdia em ato de vaidade, de modo que a nossa motivação principal não seja o benefício da pessoa que recebe a oferta, mas o nosso próprio.

Qual é a recompensa que o Pai celeste dá?
Quando o faminto é alimentado, o nu é vestido, o doente é curado, o oprimido é libertado e o perdido é salvo, o amor que provocou a dádiva fica satisfeito. Esse amor traz consigo as suas próprias alegrias secretas e não espera outra recompensa.

2. A oração do cristão (v.5,6)
Todos os judeus oravam 3 vezes ao dia, como Daniel (Dn 6.10); também costumavam orar de pé; e se sua motivação fosse de amor à Deus e ao próximo; não haveria problema em orar nos cantos das praças e sinagogas.
Dar louvor a Deus, assim como dar esmolas aos homens, é um ato autêntico por si só. Um outro motivo qualquer destrói os dois.

Como devemos orar?
De portas fechadas para: não sermos perturbados, fugirmos dos olhos humanos e ficarmos a sós com Deus. A necessidade do segredo não deve ser levada ao extremo, se não nos igualaremos aos fariseus. 

3. O jejum do cristão (v.16-18)
Aos que desfiguravam o rosto, a admiração de quem passava era a única recompensa obtida.
O propósito do jejum não é fazer auto-propaganda, mas disciplinar-nos; não obter reputação, mas expressar a nossa humildade diante de Deus e nossa preocupação com os que sofrem. Se esses propósitos forem cumpridos, seremos bem recompensados.

Diferença das religiosidades:

Farisaica
Ostentosa
Motivada pela vaidade
Recompensada pro homens

Cristã
Secreta
Motivada pela humildade
Recompensada por Deus

A oração do cristão: não mecânica, mas refletida
Mateus 6.7-15


A hipocrisia não é o único pecado a ser evitado na oração; mas também as vãs repetições.

1. O modo pagão de orar
Jesus não estava proibindo toda repetição, pois ele mesmo repetiu sua oração (Mt 26.44). Ele está condenando a verbosidade daqueles que falam sem pensar, a oração com a boca sem que a mente participe.

Se o “...Pai sabe que tendes necessidades....” Por que orar?
Nesse caso orar não seria declarar que Deus precisa ser secretariado e que nós precisamos dar a agenda daquilo que Ele precisa fazer? Ou que ele não sabe amar direito e que nós precisamos dizer para Ele cuidar de seus filhos?

“Os cristãos não oram com a intenção de informar Deus sobre coisas que ele desconheça, ou para incitá-lo a cumprir o seu dever, ou para apressá-lo, como se ele fosse relutante. Pelo contrário, oram para que assim possam despertar-se e buscá-lo, e assim exercitem sua fé na meditação das promessas de Deus, e aliviem suas ansiedades, deixando-as nas mãos dele; numa palavra, oram com o fim de declarar sua esperança e expectativa de coisas boas, para eles mesmos e para os outros, está só Nele”. Calvino

2. A forma cristã de oração
 
Como é a oração pagã
Hipócrita
Mecânica

Como deve ser a cristã
Sincera
Refletida, com mentes e corações envolvidos

A oração do “Pai nosso” : Para Mateus é um modelo a ser copiado “Portanto, orareis assim...”; Para Lucas (11.2) uma oração para ser usada “Quando orardes, dizei...”; logo podemos usá-la como é ou como modelo.

Ela demonstra que os interesses de Deus terão prioridade (teu nome... teu reino... tua vontade...); depois nossas prioridades (dá-nos... perdoa-nos... livra-nos....).
Na segunda metade da oração do Pai-nosso, depois de expressarmos nossa preocupação com glória de Deus, expressamos nossa humilde dependência da sua graça.

O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
Jesus quis se referir às necessidades e não aos luxos da vida. Queria que seus discípulo tomassem consciência de uma dependência diária.

Perdoa nossas dívidas...
Declara que nosso Pai nos perdoará se perdoarmos aos outros. Deus perdoa somente o arrependido, e uma principais evidências do verdadeiro arrependimento é um espírito perdoador. 

Não nos deixe cair em tentação...
Se a Bíblia diz que tentação e a provação são coisas boas para nós (Tg 1.2); por que devemos orar para não ficarmos expostos à elas?
A oração é mais no sentido de podermos vencer a tentação do que evitarmos. Talvez podemos parafraseá-la assim: Não permitas que sejamos induzidos à tentação que nos possa derrotar, mas livra-nos do maligno.

Os três pedidos da oração do Pai-nosso são completo:

O pão de cada dia                       Necessidade material
Perdão dos pecados                     Necessidade espiritual
Livramento do Mal                       Necessidade moral

A ambição do cristão: não a segurança material, mas a direção de Deus
Mateus 6.19-34

Na primeira metade de Mateus 6 (v.1-18) Jesus descreve a vida particular do cristão no lugar secreto (dando, orando, jejuando); na segunda parte (v.19-34) ele trata da vida pública (questões de dinheiro, propriedade, alimento, bebida, roupa e ambição).

1. A questão do tesouro (v.19-21)
 Não há proibição nem maldição alguma quanto às propriedades em si, nem quanto a economizar para dias piores, nem ainda quanto a desfrutar as boas coisas que nosso Criador nos concedeu.

Jesus proíbe o acúmulo egoísta de bens; uma vida extravagante e uma dureza de coração que não deixa perceber as necessidades das pessoas menos privilegiadas.

O que seria o tesouro no céu?
Desenvolvimento de um caráter semelhante ao de Cristo; aumento da fé, esperança e do amor; pois só esses permanecem.

2. A questão da visão (v.22,23)
Com bastante freqüência o “olho” nas Escrituras é equivalente ao “coração”; assim como nossos olhos afetam nosso corpo, nossa ambição afeta toda nossa vida.

3. A questão das riquezas (v.24)
Qualquer pessoa que divide sua devoção entre Deus e as riquezas já concedeu às riquezas, uma vez que Deus só pode ser servido com devoção total e exclusiva. Tentar dividir nossa lealdade é optar pela idolatria.

4. A questão da ambição (v.25-34)
O trecho começa com “por isso”, vamos relacioná-lo como o ensinamento de Jesus que levou a esta conclusão. Só depois que tivermos feito nossa escolha – tesouro no céu, a luz e Deus – estaremos preparados para ouvir as palavras que seguem.

Ambição é aquilo que se busca, todos buscam alguma coisa. Ela refere-se aos alvos de nossa vida e ao incentivo que temos de atingi-los.

a. Ambição falsa e secular: nossa própria segurança material
Ele nos proíbe da preocupação quando ao alimento, bebida e vestimenta (V.31), pois essa preocupação indica uma falsa visão de nós mesmos, como se fôssemos apenas corpos precisando de alimento, água e roupa, bem como da vida humana.
Jesus não está proibindo o pensamente nem a previdência, mas a preocupação ansiosa.

1) A preocupação é incompatível com a fé cristã (v.25-30) 
A nossa vida, pela qual Deus é o responsável, é obviamente mais importante do que o alimento e a bebida que nos nutrem.

2) Problemas relacionados com a fé cristã
2.1 – os crentes não estão isentos de ganhar a sua própria vida (2 Ts 3.10)
2.2 – os crentes não estão isentos da responsabilidade para com os outros
A principal causa da fome não e a falta da provisão divina, mas uma injusta distribuição por parte do homem. O fato de Deus alimentar e vestir seus filhos não nos isenta da responsabilidade de sermos seus agentes para isso.
2.3 – os centres não estão isentos das dificuldades
Ele não tem a promessa de que ficarão livres do trabalho, nem da responsabilidade, nem das dificuldades, mas apenas da preocupação. Estar livre de preocupações é diferente e de estar livre de dificuldades.

3) A preocupação é incompatível com o bom senso (v.34)
Os temores sobre o amanhã, que sentimos com tanta força hoje, talvez nem se concretizem. Precisamos viver um dia de cada vez

b. Ambição verdadeira do cristão: o reino e a justiça de Deus.

1) Buscar primeiro o reino de Deus
É desejar como coisa de primordial importância, a propagação do reino de Jesus Cristo.

2) Buscar primeiro a justiça de Deus
A justiça de Deus é um conceito mais amplo do que o Reino de Deus. Inclui aquela justiça individual e social. Deus deseja justiça em cada comunidade humana, não apenas em cada comunidade cristã.

Os relacionamentos do cristão: com seus irmãos e com seu Pai
Mateus 7:1-12

Mateus 7 nos dá um registro da rede de relacionamentos as quais, como discípulos de Jesus, somos atraídos.

1. Nossa atitude para com nosso irmão (v.1-5)
Jesus não dá a entender que a comunidade cristã será perfeita. Pelo contrário, ele pressupõe que haverá problemas de relacionamento.

a. O cristão não deve ser juiz (v.1,2)
O texto não se refere a juízes nos tribunais, mas sim à responsabilidade dos indivíduos uns para com os outros.
“Não julgar” não pode ser entendido como uma ordem para suspendermos nossa faculdade crítica em relação a outras pessoas, ou fechar os olhos diante de suas faltas fingindo não percebê-las. Não significa avaliar as pessoas com discernimento, mas condená-las severamente.
Nenhum ser humano está qualificado a ser juiz dos outros, pois não podemos ler os corações nem avaliar as motivações.

b. O cristão não deve ser hipócrita (v.3,4)
Antes Jesus denunciou a hipocrisia para com Deus, praticar piedade para ser visto pelos homens. Agora Ele denuncia a hipocrisia para com os outros, interferir nos pecados dos outros enquanto se esquece dos seus próprios pecados.
Esta é a razão pela qual não devemos julgar: somos falíveis. Devemos aplicar a nós mesmos o padrão estrito que aplicamos aos outros (1 Co 11.31).

c. O cristão deve antes ser um irmão (v.5)
O fato da condenação e da hipocrisia serem condenadas não nos isenta da responsabilidade de irmãos. Jesus não condena a crítica, mas a crítica desvinculada da autocrítica; a correção aos outros sem a correção a nós mesmos.

2. Nossa atitude para com os “cães” e os “porcos” (v.6)
 Ao mesmo tempo em que não podemos julgar, acusar e condenar de maneira hipócrita; não devemos tampouco ignorar as faltas, fingindo que todos são iguais. 
Nem todos gostam de crítica (Pv 9:8).

Cães e porcos: animais com hábitos se sujeira, ambos eram imundos para os judeus. São aqueles que tiveram a oportunidade de ouvirem o evangelho, mas que determinadamente o rejeitou, aqueles que manifestam desrespeito para com Deus.
Insistir em pregar o evangelho à essas pessoas a partir de um certo ponto é provocar seu despreza e até blasfêmia. Jesus deu essa instrução aos discípulos (Mt 10.14; Lc 10.10,11), o apóstolo Paulo fez o mesmo em Antioquia (At 13.44-51), em Corinto (At 18.5,6) e em Roma (At 28.17-28).

Essa postura não deve ser algo corriqueiro, afinal desistir das pessoas também é algo muito sério.

3. Nossa atitude para com nosso Pai celeste (v.7-11)

a) O que Jesus promete
“Nada é melhor para nos levar a oração do que a certeza de que seremos ouvidos” Calvino
Os 3 verbos: pedi, buscai e batei; estão no imperativo de indicam a persistência com a qual devemos fazer nossos pedido conhecidos a Deus. 

b) Os problemas que se criam

1) A oração é descabida
Deus espera que lhe peçamos, não porque continua ignorante até o momento em que lhe informamos; a questão não é se Ele está pronto para dar, mas se nós estamos prontos para receber. Na oração não persuadimos à Deus, mas persuadimos a nós mesmos a nos submeter a Deus. 
A oração não é descabida, é a maneira como Deus escolheu para expressarmos nossa consciente necessidade e a nossa humilde dependência dele.
 
2) A oração é desnecessária
Por que há pessoas que recebem sem oração as mesmas coisas que nós recebemos orando? 
É preciso diferenciar as dádivas:

Deus como Criador
Dons da criação
Colheita, filhos, alimento, vida...
Faz nascer sol para bons e maus (Mt 5.45)
Dons que não dependem do conhecimento de Deus 

Deus como Pai
Dons da redenção
Salvação ao que invocar (Rm 10.12,13)
Perdão diário, livramento do mal, paz, aumento de fé, esperança e amor, obra do Espírito
Dons aos que conhecem a Deus

3) A oração é improdutiva
Por que Deus não dá aquilo que se pede?
As promessas de Deus são condicionais, se Ele concedesse tudo o que se pede o mundo seria um caos.
Por ser bom Deus concede boas dádivas aos seus filhos, sendo sábio, Ele sabe quais são boas e quais não são. Se um filho pedir peixe o pai não lhe dá uma cobra, e se pedir uma cobra? Certamente não dará também. 

c) As lições que aprendemos
Oração pressupõe conhecimento: Se Deus só concede conforme Sua vontade, devemos buscar saber essa vontade.
Oração pressupõe fé: humilharmos e expressarmos nossa confiança de que Ele executará Sua vontade.

4. Nossa atitude para com todos os homens (v.12)
Precisamos no colocar no lugar da outra pessoa e perguntar: “como eu gostaria de ser tratado nessa situação?”

Os relacionamentos do cristão: os falsos profetas
Mateus 7.13-20


1. A escolha inevitável (v.13,14)
Um dos caminhos é fácil: nele há lugar para diversidade de opiniões e a frouxidão moral. Caminho de tolerância e permissividade, sem limites de pensamento e conduta.

Outro caminho é difícil: limites demarcados, a Palavra de Deus, auto-negação. A porta é estreita é preciso procurá-la, é fácil de errar o caminho. Jesus é a porta. 

2. O perigo dos falsos mestres (v.15-20)

a) Advertências
O rebanho de Cristo está à mercê ou de bons pastores, ou de mercenários, de lobos. 
Falsos profetas: negam que Deus é Deus de juízo, que é somente de amor e misericórdia, embalam o povo em seus pecados, deixam de advertir sobre o juízo de Deus. São responsáveis por levarem algumas pessoas à perdição que eles afirmam não existir. 
O Falso profeta não se anuncia assim, se anuncia como mestre da verdade; parece mais profeta que o verdadeiro profeta. 

b) Provas
É possível confundirmos um lobo disfarçado com uma ovelha, mas não podemos cometer o mesmo engano com uma árvore. Nenhuma árvore esconde sua identidade por muito tempo; o lobo pode disfarçar-se, a árvore não.
Pelos frutos os conhecereis (v.16,2). Que frutos são esses?
1. Fruto do Espírito, que tem a ver com caráter e conduta.
2. Ensinamento da pessoa
3. Influência: temos que nos perguntar que efeitos seus ensinamentos estão produzindo nos seus discípulos.

Se a igreja desse atenção à advertência de Jesus contra os falsos profetas não estaria nesse terrível estado de confusão moral e teológica em que se encontra.

O compromisso cristão: uma escolha radical
Mateus 7:21-27


1. O perigo de uma profissão de fé simplesmente verbal (v.21-23)
O nosso destino final será estabelecido não pelo que dizemos, ou diremos no último dia, mas por fazermos o que dizemos, por estar nossa profissão verbal acompanhada da obediência moral.
“Apartai-vos de mim...” A razão por que Jesus os rejeita é que a profissão de fé deles foi verbal, não moral.
Cristo não fica impressionado com nossas palavras piedosas e ortodoxas. Ele continua pedindo evidências de nossa sinceridade em boas obras de obediência.

2. O perigo de um conhecimento meramente intelectual (v.24-27)
Antes o contraste era entre o “dizer” e o “fazer”, o contraste agora é entre “ouvir” e o “fazer”. Aqui Jesus não está falando de cristãos e não-cristãos; ambos são cristãos professos, cristãos professos normalmente se parecem. Apenas uma tempestade revelará a verdade.

Nem um conhecimento intelectual, nem uma profissão de fé verbal, embora ambos sejam importantes, podem substituir a obediência.

Bibliografia
- A Mensagem do Sermão do Monte – Contracultura Cristã – John Stott

Pastor Alexandre de Oliveira